Pelé (mui amigo) e Quarentinha, capa da Revista do Esporte. Abomino a Fifa e a CBF e todo o submundo do futebol, que usa o povo para ganhar dinheiro, mas gosto de futebol, hoje menos do que ontem... Já me interessei por futebol.
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| Quarentinha, Pelé, Zagalo e seleção |
Quando tinha 10/12 anos, em Lagoa Santa, muitas vezes ouvi: “Ele é da terra do Quarentinha”. De tanto ouvir essa frase, acabei me interessando pela carreira do craque Quarentinha (Waldir Cardoso Lebrego - 1933-1995) e por mais de 20 anos sempre procurei saber por onde andava.
Tudo que era Revista do Esporte que trouxesse alguma matéria sobre ele, eu comprava.
Quando voltei a Belém do Pará, em 1962, e fiquei até o começo de março de 1964, lá havia outro Quarentinha, também do Payssandu, clube em que o grande Quarentinha do Botafogo iniciou sua carreira em 1952.
Alcancei, em 63, o pequeno Estádio da Curuzu, no bairro do Marco, ainda de madeira. Vi o Payssandu jogar, ali, umas três vezes. Se minha filha já vivesse em Buenos Aires em 2003, teria ido a La Bombonera assistir a vitória do Papão da Curuzu sobre o Boca Juniors por um a zero, gol de Jarlei, na noite de 24 de abril, pela Libertadores. Foi o maior feito do Payssandu em toda a sua história.
O impossível acontece no futebol...
Quarentinha foi o melhor jogador já revelado pelo Pará ao Brasil. Nos últimos 80 anos, saíram do Pará para a glória do futebol brasileiro Quarentinha, Oliveira (Fluminense), Jardel e Ganso. Não saberia citar outros... ajudem-me!
Quarentinha morreu cedo, em 1995, aos 62 anos, pobre, esquecido. Seu pai, o Quarenta, também jogou pelo Payssandu.
👩 👩Depois de dois anos no Payssandu, passou um ano no Vitória, oito anos no Botafogo, uma passagem de dois anos no Bonsucesso, uns quatro na Colômbia e encerrou a carreira em Itajaí (SC), em 1970, com 37 anos. Quarentinha, dono de chute potente, demolidor, era terror das barreiras e dos goleiros. O chute do Branco e do Roberto Carlos perto do dele era uma folha seca caindo do céu. Conta o escritor João Ubaldo Ribeiro, que passou a torcer pelo Vitória (Bahia) depois que viu, em 1953, Quarentinha cobrar uma falta do meio do campo e tirar uma lasca de meio metro da trave (se é mentira... é dele...). Já Luiz Mendes, em seu livro “7 Mil Horas de Futebol”, conta que, num jogo com o Fluminense, logo depois de Didi deixar o Tricolor das Laranjeiras para jogar no Botafogo, tudo estava pronto para o Didi bater uma falta frontal ao gol de Castilho (Flu), que sabia das manhas do Didi e conhecia bem sua folha seca. Tudo pronto, Didi sussurra para Quarentinha: Eu faço que vou e você bate. Bate Quarentinha e o foguete foi parar no fundo da rede de Castilho...
Pelé, que não era santo do oratório de Quarentinha (dizem que fez lobby contra ele para ser convocado o Coutinho para a Copa de 62... Acabou que Pelé e Coutinho, por contusão, ficaram de fora... entrou o Amarildo), comentou, certa feita: “Seu grande trunfo é que chutava muito bem com as duas pernas, e que bomba!”
Pelé e Qurentinha foram capa da Revista do Esporte juntos, o que demonstra a importância dos dois. Pelé seguiu famoso, Quarentinha morreu pobre e esquecido...
Aimoré Moreyra não o levou para o Chile. Foi convocado e depois desligado. Após a Copa de 62, ele jogou algumas partidas pela seleção, todas em abril e maio de 1963. Antes, em setembro de 1959, na goleada de 7 a 0 contra o Chile, ele marcou dois e marcou, de novo, contra o Chile, três dias depois, no Pacaembu, quando o Brasil venceu por 1 a zero. Ele deu a vitória ao Brasil.
Seu biógrafo Rafael Casé, em “ O Artilheiro que não sorria: Quarentinha, o maior Goleador da História do Botafogo” – 2008, registra todos os gols do Quarentinha. Como goleador do Botafogo, ele superou Mané Garrincha, que, em doze anos de Botafogo, 612 jogos, marcou 242 gols. Quarentinha marcou 313 gols em 442 jogos. Houve partida em que Quarentinha marcou 4 gols, como contra o Olaria, em agosto de 1958.
Quarentinha eternizou o nome do Pará na história do futebol brasileiro e levou para a Galáxia do Futebol, em seu coração, a Estrela Solitária do Botafogo.
Como eu vibrava, torcedor ingênuo, com os gols do Quarentinha pela TV Itacolomi, quando transmitia jogos do Rio. Devia este artigo à memória do Quarentinha, belemense como eu, ele nascido no bairro do Marco, na Travessa Curuzu, eu na Cidade Velha. Quarentinha, pessoa muito fechada, não gostava de festejar seus gols, voltava cabisbaixo para o meio do campo. Dizia que era pago para fazer gols e nada de excepcional realizava. Não gostava de cerimônias.
Esta Copa não me desperta o menor entusiasmo... o povo não irá aos estádios pelo preço proibitivo dos ingressos, a Fifa maculou a soberania nacional. Temo a repetição de 1950. Tudo recai nos pés de Neymar. Neste ano de Copa do Mundo, de escândalos com superfaturamento de estádios, de exposição das vísceras do futebol-grana-Fifa, cabe lembrar Quarentinha, exemplo de honestidade, já que não há, na atualidade, nenhum jogador que se lhe compare no chute potente: uma bomba que virava gol.
Belém lhe deve uma rua, uma praça ou um estádio com o nome Quarentinha.


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